Neurociência E Música Na Educação

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Neurociência e Música na Educação

Neurociência – Greco Lacerda Cruz

Pós-graduação em Neurociência Aplicada a Educação

Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU

Artigo escrito durante a disciplina: Neurociência e Neuropsicologia

Orientadora: Dra. Josiane de Souza Pinto Alberte

Resumo: A neurociência tem investigado o valor da música como estímulo e tem feito descobertas relevantes no âmbito de que ela tem forte influência como agente no tratamento de várias síndromes e enfermidades, além disso tem corroborado na direção de sedimentar a importância dos processos musicais na aprendizagem humana. Este artigo trata de analisar alguns estudos que se coadunam com estas premissas e que podem lançar luz a novas pesquisas e experimentos.

Palavras-Chave: neurociência, música, educação, musicoterapia, neuropsicologia

Introdução

A música está presente na sociedade humana desde os primórdios. Conforme comenta Berrocal (2011) as origens da utilização terapêutica dos sons e da música remontam, possivelmente ao princípio da humanidade.

Segundo ele vários livros sagrados antigos trazem textos que denotam o uso da música para cura e transformação do ser humano.

Não obstante no mesmo livro ele correlaciona música, musicoterapia e neurociência. Baseado nisto e em outros textos que serão citados no decorrer deste artigo, ficará claro a intenção de enfatizar a eficácia da união destas três áreas de estudo à pedagogia demonstrando a possibilidade de que, num contexto interdisciplinar, emerja o construto de novas metodologias e práticas educacionais que envolvam todas estas áreas.

Neurociência, neuropsicologia e música

Assim como exercícios físicos ajudam a manter a forma física, os exercícios mentais ajudam a melhorar a capacidade cerebral. Isso é o que afirmam Katz e Rubin (2000) em seu livro “Mantenha Seu Cérebro o Vivo”.

A música, atualmente, tem se confirmado como uma ferramenta extremamente útil em acréscimo as atividades de aprendizado justamente por atuar em múltiplas áreas do sistema nervoso.

Segundo Sorias-Urios et al (2011), dependendo de que aspecto, qualidade ou componente da música estejamos analisando (tom, organização temporal, sequência motora, canto, etc.), intervém distintas áreas cerebrais, não somente as corticais, como também dos gânglios basais ou do cerebelo.

E a música também age como estímulo emocional, em si mesmo, podendo ativar zonas diferentes do cérebro conforme seja uma música agradável (núcleo accumbens, “o núcleo do prazer”) ou desagradável (amígdala, “o núcleo do desprazer”).

Nesse sentido a música pode ser usada dentro das metodologias de aprendizado para incrementar as atividades e melhorar a capacidade cerebral para um melhor aprendizado.

E dessa forma se coaduna com o que afirmam, acima, Katz e Rubin.

Sorios-Urios, falando a respeito da Neuropsicologia cognitiva da música, comentam que a música pode ser vista como uma “linguagem” organizada que se baseia em um sistema de regras que coordenam uma série de elementos básicos e, por outro lado, temos a música como elemento cultural.

O processamento da música no cérebro é modular, por isso existe um sistema de informação mental específico, o qual é formado por módulos menores específicos para processar seus distintos componentes.

Quando escutamos uma canção, acontece, primeiramente, uma análise acústica, a partir do qual cada um dos módulos se encarregará de alguns componentes:

– A letra da canção será analisada pelo sistema de processamento da linguagem.

– O componente musical será analisado por dois subsistemas: organização temporal (analisamos o ritmo e o compasso) e organização do tom (a analise do contorno e dos intervalos nos levam a codificar o tom).

Temos uma memória musical de tudo aquilo que vamos recebendo ao longo de nossa vida, e é o que nos faz reconhecer uma canção.

Através da música é possível ativar a nossa memória associativa.

Segundo Cascarani (2008) a criança, ao se envolver em processos musicais, lida com vários componentes pessoais como: sensações, percepções, afeto, escuta, habilidades motoras, mobilização de energia, atenção, concentração, expressão, habilidades espaciais e temporais os quais são os mesmos utilizados na aprendizagem.

A música, além do mais, pode fazer com que o aluno desenvolva níveis superiores de linguagem e cognição, por sua característica de facilidade em acessar conteúdos não verbais, principalmente naqueles em que a capacidade da linguagem oral esteja deficitária.

Música e musicoterapia em ambiente escolar

Bruscia (2013) ao referir-se as práticas didáticas em Musicoterapia, relata que as experiências musicais são usadas funcionalmente em ambiente de formação e educativo em auxílio ou enriquecimento do aprendizado não musical.

A música pode ser usada tanto como música de fundo para acelerar o aprendizado, para otimizar a formação e treinamento.

Na educação especial pode “ajudar alunos especiais a ganhar conhecimentos e habilidades não musicais que são essenciais ou que fazem parte da sua educação, desenvolvimento ou adaptação.”

A Música por ser um estímulo multimodal pode ser um poderoso agente no sentido de facilitar a aprendizagem de alunos que portem síndromes ou enfermidades como: síndrome de down, autismo ou crianças com algum tipo de dano cerebral, dentre outras, por exemplo.

Numa pesquisa desenvolvida por Soria-Urios et al (2011), eles discorrem sobre cinco tipos de modulações, que são fatores para que a música em processos musicoterapêuticos, seja efetiva em alunos com déficits cognitivos ou com algumas das patologias citadas acima:

– Modulação de atenção/Fator de atenção – em casos de elevado estresse, por exemplo, a música é usada tanto para distrair como para ativar a atenção

– Modulação emocional/Fator emocional – em áreas corticais e subcorticais a música é capaz de mudar emoções e provocar respostas emocionais.

– Modulação cognitiva/Fator cognitivo – Este fator implica a memória musical (codificação, armazenamento e recuperação).

– Modulação comportamental/Fator comportamental/motor – a música é capaz de evocar padrões de movimento em pacientes com paralisia cerebral, por exemplo.

– Modulação comunicativa/Fator interpessoal – em casos de alterações de conduta e autismo, por exemplo, pode auxiliar no aprendizado e treinamento de habilidades de comunicação não verbal.

A este cinco pode ser acrescentada a modulação perceptiva o que pode ajudar em outros processos como a compreensão da linguagem.

Outro área de estudo que pode nos ajudar a entender porque a música já tem funcionado bem em ambientes escolares e acadêmicos é a psicologia da música.

Wigram et al (2002) resumem importantes tópicos que estão dentro desta área e que nos evidenciam o valor dos aspectos psicológicos musicais:

  • a função da música na vida e a história da humanidade
  • a função da música na vida e a identidade de uma pessoa
  • percepção auditiva e memória musical
  • imagens mentais auditivas
  • processamento do cérebro de inputs musicais
  • a origem de habilidades musicais e no desenvolvimento de habilidades musicais
  • o significado de músicas e preferências musicais para a formação da identidade
  • a psicologia da performance musical e composição.

Conclusão

Seria possível estender esta discussão por páginas e páginas deste artigo, porém, o que foi exposto acima já é suficiente para que se possa pensar e agir seriamente em direção da oficialização da música não só como disciplina vigente em todos os currículos escolares e acadêmicos, mas também incentivar a pesquisa relacionada a criação de novos métodos em que musicoterapeutas, neurocientistas, músicos e pedagogos sejam os protagonistas.

A neurociência a cada ano tem progredido mais, no sentido de demonstrar as capacidades cerebrais, a neuroplasticidade cerebral e como nosso cérebro aprende.

A música em conjunto com a musicoterapia tem comprovado o valor das experiências musicais no desenvolvimento cerebral e neurológico, e a pedagogia avança em direção a metas em que o ser humano seja respeitado como um todo em seus processos educacionais.

A pesquisa de forma interdisciplinar é sem dúvida o caminho para ampliação e testificação de novos métodos.

Conforme demonstrado acima, há fortes evidências que corroboram para que a música inserida no contexto educacional consiga fazer com que o aluno consiga atingir metas mais rapidamente do que sem seu auxílio.

Para isto é preciso que haja também a inserção de musicoterapeutas, neurocientistas e músicos, trabalhando juntamente com pedagogos em ambiente educacional e de forma interdisciplinar.

Referências:

BERROCAL, J. A. J. Música y neurociencia: la musicoterapia Sus fundamentos, efectos y aplicaciones terapéuticas. 1. ed. Barcelona : Editorial UOC, 2011. 155 p. Bibliografia comentada: p.128. ISBN 978-84-9788-762-5.

BRUSCIA, K. E. Definindo musicoterapia. 3. ed. Barcelona: Barcelona Publishers, 2016.

CASCARANI, A. P. Educação, música e desenvolvimento humano. 1. ed. São Paulo: Casa do Novo Autor Editora, 2008.

KATZ, L. C., MANNING, R. Mantenha o seu cérebro vivo. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2000.

SORIA-URIOS G, DUQUE P, GARCÍA-MORENO JM. Música y cerebro: fundamentos neurocientíficos y trastornos musicales. Rev Neurol 2011; 52: 45-55.

SORIA-URIOS G, DUQUE P, GARCÍA-MORENO JM. Música y cerebro (II): evidencias cerebrales del entrenamiento musical. Rev Neurol 2011; 53: 739-46.

WIGRAM, T., PEDERSEN, I. N., BONDE, L., O., A Comprehensive Guide to Music Therapy Theory, Clinical Practice, Research and Training Jessica Kingsley Publishers. 1. ed. London and Philadelphia, 2002.

Fonte da foto: www.bbc.com/news

Veja também: Músicos Que Se Tornam Professores de Música

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