Músicos Que Se Tornam Professores de Música

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Músicos Que Se Tornam Professores de Música

Greco Lacerda Cruz

Pós-Graduação em Neurociência Aplicada a Educação

FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas

Reflexão escrita na disciplina: Reflexões E Praticas Docentes No Ens. Superior

Professor: Dr. Marcelo Campos Tiago

Uma coisa muito comum e que já acontece há muito tempo é o fato de que muitas pessoas entram para o mundo da música profissional, pensando, basicamente, em se manter financeiramente através de shows e apresentações musicais, ou pior, alguns nem pensam em como vão ganhar dinheiro com a música. Simplesmente se lançam na carreira sem nenhum planejamento ou noção do que pode acontecer. O mundo da música profissional envolve muitas atividades, nas quais cada músico pode se especializar ou tentar dominar várias delas focando numa principal. Veja por exemplo algumas das profissões que são comuns no meio musical: Instrumentista ou cantor – que pode ser concertista com trabalho próprio ou músico de apoio de algum artista, e além disso pode se dedicar a eventos, igrejas ou apenas tocar/cantar em bares e afins. Produtor musical – que pode tanto trabalhar sozinho como para alguma empresa de mídia e distribuição musical. Às vezes este profissional abarca também a função de produtor executivo ou diretor artístico. Se formos enumerar aqui a quantidade de ocupações que existem dentro da indústria da música seria preciso escrever um livro, mas uma das profissões que é muito comum no mundo da música e que merece a atenção é a profissão de Professor de Música. Isto porque esta profissão envolve, também, trabalhar com educação. É comprovado cientificamente que a música vai muito mais além do que somente entreter. A Musicoterapia está aí para comprovar isto. Segundo Bruscia (Um dos principais teóricos na atualidade) há muita dificuldade em definir-se o que é Musicoterapia, mas ele sugere aqui uma de trabalho:

“Musicoterapia é um processo reflexivo onde o terapeuta ajuda o cliente a otimizar sua saúde, usando variadas facetas da experiência musical e as relações formadas através desta como o ímpeto para a transformação. Como definido aqui, a musicoterapia é o componente de prática profissional da disciplina, que informa e é informado pela teoria e pela pesquisa.”

(Trecho de: Kenneth E. Bruscia. “Definindo Musicoterapia”. iBooks.)

Levando em consideração esta definição é possível criar dinâmicas dentro da experiência musical e suas relações para o bem-estar do ser humano. Apesar de um professor de música não ser um Musicoterapeuta ele inevitavelmente vai acessar e construir relações, conteúdos e dinâmicas que se bem direcionados podem ir além de naturalmente ensinar um hobby para uma pessoa. Infelizmente uma grande parte dos professores ou educadores musicais tem pouca noção disso ou nenhuma.

Ainda mais quando refletimos a respeito do tema deste trabalho.

A profissão de professor de música, muitas vezes, aparece como uma válvula de escape para um músico que está com dificuldades de arrumar trabalho como músico executante ou como produtor, arranjador, dentre outras. Isso tem se caracterizado um problema quando analisamos que estes músicos podem trazer junto para as aulas uma carga de frustração por não estar fazendo aquilo que, realmente, querem dentro da música. E aí, junto com este problema, podemos enumerar uma série de outras dificuldades que estes músicos podem encontrar: Falta de didática, dificuldade de empatia com os alunos, confundir aula com show, falta de responsabilidade com horários, dificuldade de entender os objetivos musicais de cada aluno, desmotivação, etc…

 O que acontece é que a profissão de professor de música é vista com certo desprezo artístico, até mesmo pelos próprios professores. É como se dar aula fosse um “rebaixamento de cargo” numa empresa.

O que tenho descoberto em minha prática profissional como professor de música é que minhas atividades tem sido muito importantes na formação e transformação pessoal e social de muitos dos meus alunos. Outra coisa importante é que a grande maioria de “fãs” do meu trabalho musical não tem vindo dos eventos ou bares onde toquei, mas sim, da relação que é nutrida no contato aluno-professor. A aula acaba sempre indo além das esferas da música e se entremeando a assuntos do cotidiano de cada aluno, com suas dificuldades e idiossincrasias.

A música está envolvida na formação da sociedade desde os primórdios. É muito comum ao lermos algum livro de história antiga, encontrarmos experiências onde a música é elemento presente e importante, como comentado por Tame (1984) e Berrocal (2011). Interessante notarmos que, quando dos primeiros registros sobre a presença da música, ela apareceu primeiramente como meio de comunicação e nos rituais de cura e somente depois é que começou a ser usada exclusivamente como entretenimento. Por estes e outros motivos que não discutiremos aqui é que existe a necessidade de que esta profissão seja levada mais a sério. No sentido de maior preparo para que o professor possa se enxergar como o facilitador de um conhecimento que pode desenvolver o aluno intelectualmente e conduzi-lo a um processo de transformação pessoal e social. As neurociências têm colaborado para que tenhamos uma compreensão maior de como a música atua no cérebro e estes estudos evidenciam que ela é um agente importante no desenvolvimento cognitivo de um indivíduo. A música pode colaborar por si só, multi e interdisciplinarmente para o construto de uma sociedade melhor, mas ela também pode ser manipulada em prol de interesses escusos.

Tem-se discutido muito sobre a questão da presença da educação musical nos currículos das escolas, mas não há boa vontade política em se chegar a um consenso. E isso não é importante somente para aumentar a demanda de trabalho para professores de música, mas também para que os resultados processados pela música sejam colhidos por outras áreas do conhecimento. Atividades musicais já são usadas em muitos métodos de aprendizagem. Muitos educadores já perceberam a vantagem de ter a música como ferramenta. Então, neste sentido, através da música, metodologias também podem ser melhoradas e até criadas.

O que vimos aqui é que a profissão de professor de música não deve ser vista como uma profissão “estepe”, por interferir direta ou indiretamente na construção do conhecimento e na formação do ser humano. É necessário que aumentem os estudos na área da didática musical, mas também é necessário que seja aplicado o que já se sabe. Infelizmente ainda existe uma parcela muito pequena de professores que tem consciência do grau de importância que a música tem na vida das pessoas e de qual o impacto que o uso ou mau uso dela pode causar nas pessoas.

Através do exposto aqui, poderíamos criar a seguinte pergunta para reflexão:

Se os próprios profissionais da música não buscam uma melhor compreensão ou não querem saber a respeito dos efeitos da música, como podemos exigir isto da sociedade?

É necessário que as pessoas saibam do que a música é capaz. Do que o som é capaz. Do que o silêncio é capaz.

Música é som e silêncio.

“Não há som sem pausa… …O som é presença e ausência, e está, por menos que isso pareça, permeado de silêncio.” (Wisnik, 1999)

O cérebro pulsa. A música pulsa. O conhecimento faz pulsar. O saber faz pulsar.

Referências:

Berrocal, J. A. J., Música y neurociencia: la musicoterapia sus fundamentos, efectos y aplicaciones terapêuticas, Editorial UOC, 2011, Barcelona.

Bruscia, K., E. Definindo musicoterapia. Barcelona Publishers, 2016, Dallas.

Tame, D., O poder oculto da música, Editora Cultrix, 1984, São Paulo.

Wisnik, J., M., O som e o sentido: uma outra história das músicas. Companhia da Letras, 1999, São Paulo.

Fonte da foto: Pixabay.com

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